Tal como já referi, entrei para a escola quase com 8 anos, transportado num carrinho de transporte de crianças. Os meus colegas faziam-me diabruras: largavam a cadeira na descida do recinto da escola, para me verem a gritar pela minha irmã: “oh Palmirita…Palmirita” gritava eu aflito. A cadeira embatia contra o portão e eles viravam-se a rir, e eu também, passado o susto, sorria, por não me ter acontecido nada de grave. Outra aventura aconteceu, quando regressávamos da escola, numa pequena serra, situada no Práino, perto do sítio onde morávamos, levaram-me lá para o alto, largaram a cadeira e o Zézito, quase a borrar as calças gritava por socorro. Parecia que estava a fazer esqui, aos ziguezagues entre os pinheiros, até que lá já ao fundo embati contra um, virando-se a cadeira de rodas de frente para eles. Depois da aflição, e porque mais uma vez nada de grave acontecera, virei-me a rir, e eles, às gargalhadas, espojaram-se no chão. Apesar disso, éramos todos amigos. No dia 6 de Janeiro, estes e outros, já com idades compreendidas entre os 17 e os 20 anos, levavam-me com eles, a cantar e a tocar as Janeiras, de porta em porta. Lá vinham os donos da casa que, ao ouvir-nos cantar, davam-nos aqui uma broa, ali um chouriço, mais adiante uns ovos, umas cebolas e até o vinhito, e assim se ia enchendo o saco e a aldeia em alegria com o cantar das Janeiras. Ao fim da tarde desse mesmo dia, quando estávamos todos juntos na eira do povo, acendia-se uma fogueira punha-se uma sertã em cima de umas trempes e lá se fritavam os ovos com o chouriço e a cebola picada. Enquanto comíamos, tocávamos e cantávamos à volta da fogueira.
"As janeiras estão passadas
Chegadinho vem os reis,
Vinde lá os donos da casa
Com alguma coisa que nos deis"
O meu pai emigrou para Angola quando eu tinha cinco anos, deixando em Portugal a minha mãe com quatro filhos. Para nos governar, andava todo o dia fora, a trabalhar na agricultura por conta de outrem. Ao Sábado, porém, a nossa alegria era ir pela encosta do pinhal, até à beira do rio Alva, para lavar a roupa. A minha mãe levava uma canastra à cabeça e a mim ao colo. A minha irmã Palmira levava, à cabeça, um tacho com arroz de bacalhau, (não era bacalhau com arroz), para o almoço. Lá ficávamos todo o dia. Enquanto a minha mãe e a Palmira lavavam a roupa e a punham a secar, nós, os mais novos, brincávamos a atirar com seixos ao rio e a ver os peixes que se aproximavam. A água era límpida, até se podia beber, pois, ao contrário do que acontece hoje em dia, naquele tempo não havia poluição, nem se sabia o que isso era. Às vezes lá passavam uns homens com umas barcas empurradas por uma grande vara, que levavam com eles umas redes para apanhar peixe, uns taleigos (sacos), com cereais para os moinhos que ali perto funcionavam noite e dia, movidos pelas águas do rio. Ao domingo ia-se à missa, na igreja que distava sete quilómetros. A minha mãe levava-me sentado numa canastra à cabeça. Depois da missa comprava-nos sempre pão, que era uma delícia, por ser novidade e esporádico, pois naquele tempo, nas aldeias, só se comia broa de milho, feita e cozida pelas famílias lá de casa, e de farinha, do milho, cultivado pelos próprios. Da parte da tarde, todos sentados, no soalho da varanda, da nossa velha casinha, enquanto minha mãe remendava ou colocava um botão que se tivesse arrancado na nossa roupa, nós brincávamos em seu redor. Era uma mãe galinha. Nunca nos deixou passar fome: muitas vezes nós comíamos batatas com sardinha, enquanto ela comia batatas com batatas. Já no final de Dezembro de 1962, quando estava no início da segunda classe, (segundo ano), saí da escola e, nesse mesmo ano, abandonámos a aldeia que um dia me viu nascer. Entrámos no comboio, em Coimbra, rumo a Lisboa. Para trás ficavam os meus amigos e a minha aldeia, perdida nas montanhas da Beira Litoral. Ao chegarmos a Lisboa ficámos encantados com tudo o que víamos: os monumentos, as estátuas, os eléctricos os grandes barcos (paquetes) e a grande obra do governo de Salazar e que estava no inicio de construção, a Ponte de Salazar. Não posso compreender e nem aceito o facto de passarem a chamar àquela ponte “Ponte 25 de Abril”. Que quisessem recordar essa data, o fim de uma ditadura, compreendo, mas em vez de mudarem o nome da ponte, poderiam ter erguido um monumento, nessa altura, alusivas a essa data. Embarcámos num grande navio, “o Vera Cruz”, e lá seguimos, sobre as águas do Atlântico durante 10 dias, rumo a Angola.
Jose
ResponderEliminarMas eu adoro comentar.
E esta história esta cada dia mais gostosa de ler.
E que vontade de rever Fátima. Fomos lá o ano passado.
Passamos o dia 20 de abril aniversário de mame no restaurante Alice.
Não sei porque os emails que tenho também não me responderam.
Acho que deve ter mudados. Etas garotas levadas!
com carinho Monica
José, estou eu aqui e com carinho serei sua seguidora também.
ResponderEliminarVoltarei mais vezes para ouvir o que vc tem a dizer.
Abç
a vida nos faz e nos conta vida..
ResponderEliminarbeijos querido amigo..
Aqui estou amigo José!
ResponderEliminarFiquei sua seguidora.
A vida, às vezes, reserva-nos partidas e chegadas, pelas quais não esperavamos. Estou a gostar da sua estória. Recheada de alegria e tristeza.Recordações!!! São elas que nos fazem crescer por dentro. Eu estive em Moçambique e vim de lá recambiada...rs
Saudações poeticas
Este capitulo me fez lembrar um pouco a minha infancia com os banhos de rio.
ResponderEliminarAgora, que aventura, heim! Quero saber os dez dias de viagem rumo a Angola, meu Deus!
Beijos
José..
ResponderEliminarpassando para acompanhar sua história.. Linda a forma como o relembra e passa para as palavras..
Beijocas super em seu coração..
Verinha
Oi, José.
ResponderEliminarÉ bom ter histórias para contar.
Um forte abraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarsua história é muito comovente vc relamente é um vencedor!!
ResponderEliminare parabéns pelo espaço muito bem organizado!!
continue ronspendo bareiras!!
boa semana pro'c""
Oi José
ResponderEliminarEstou gostando de saber da tua história.
Não vou perder mais nenhum capítulo.
Bjs no coração!
Nilce
Acompanho o seu blog e me orgulho das suas histórias e modo de encarar a vida.
ResponderEliminarVocê é uma pessoa diferente, pois vc é um ser humano raro.
Me encanto com o seu conhecimento!
Oi José...
ResponderEliminarComo já comentei em posts anteriores tenho uma filha de 14 anos especial, assim entendo na carne o que vc já passou, mas como eu bem disse já passou. É um vencedor e dono de histórias maravilhosas que encantam.
beijos
José, você tem vencido a cada manhã, você vence a cada postagem, você vence quando nos inspira a olhar pra nossa vida com mais esperança, você nos inspira quando nos mostra que devemos viver mais!!
ResponderEliminarQue você é um vencedor, com certeza você já sabe, sua luta nos diz isso!!
Um grande abraço!
O início de uma aventura de vida...Interessante...tentarei ficar a par ...mas não prometo que virei sempre.Certo?
ResponderEliminarBem que gostaria mas ... o tempo e os outros compromissos...por isso desculpa-me!
Um grande beijinho
Também na minha infância, eu e os meus amigos de escola, como eramos travessos. tenho muitas saudades. Continua amigo, eu vou estar sempre a par deste blog e dos outros. Desculpa se demoro a comentar ou se me esqueço de algum. Vou fazer uma confidência: Estou a gostar mais deste blog. Força grande zé
ResponderEliminarOlá, José! Só agora pude ler a continuação da sua belíssima história. Que vida linda, mas lindo mesmo é perceber que a limitação que a vida te impôs, não o impediu de ter uma infância feliz! E sua mãe, forte, amorosa, que mulher impressionante! É com muito prazer que estou lendo a sua história e apreciando-a, em todos os seus detalhes. A descrição dos fatos e lugares, nos mostra uma realidade culturalmente diferente, ainda que em humanidade sejamos quase todos iguais. Aguardarei ansiosa o próximo capítulo! Abrs!
ResponderEliminarLinda história, lindo blog!! Agradeço a visita ao meu cantinho e retribuo me fazendo presente e seguindo.
ResponderEliminarBjs!!
Vim para lhe agradecer pelo carinho de sua visita e para desejar um lindo fim de semana para você José!
ResponderEliminarBeijocas em seu coração..
Verinha
Olá José Sousa, boa tarde.
ResponderEliminarÉ bom relembrar o passado, mesmo que tenha sido duro e dá-lo a conhecer aaos vindouros.Obrigada pela sua visita. Gostei de aqui vir e
voltarei.
Abraço
Maria Mamede
Olá, José!
ResponderEliminarMuito bonita essa sua história e também de superação. Parabéns pelo ser humano que és: um vencedor! Vou continuar lendo essa história surpreendente.
Para mim é uma honra tê-lo como seguidor do meu blog. A partir de hoje também serei teu seguidor.
Meu abraço fraterno!!!!
passando para sentir o cheirinho do arroz de bacalahu,que amo, e deixar um beijo perfumado para o teu final de semana querido José..
ResponderEliminarnão sei se te disse,mas tenho família em Portugal lá na Ponte do Lima.. lindo lugar!
jose aqui estou muito honrrada por seguir seu blog,e conhecer um pouco de sua história que é maravilhosa linda,apesar de sua,situação,voce
ResponderEliminarvive feliz preocupa-se em auxiliar as outras pessoas é um ser abençoado por Deus que ele te ab ençoe sempre mais e ilumine sua vida um
grande abraço,virei aqui muitas vezes,bjs marlene
Obrigado pela visita e simpático comentário.
ResponderEliminarGostei de viajar por aqui. És um contador de histórias nato. Vou ficar teu seguidor.
Um abraço
Jorge
http://escarniosmaldizeres.blogspot.com/
Bom dia!!
ResponderEliminarBom.. quero agradecer sua visita e convida-lo a voltar sempre que sentir vontade!
Gosto de tudo que escrevo, seja um poema um papo bobo, um desabafo mais citrico enfim.. esse sou eu!
Um forte abraço e um fds de paz!
Nos encontramos no Alma ou aqui.
Amigo adorei ler mais esta passagem da sua história. A alegria do convivio com os amigos na sua aldeia natal, a admiração pela grande cidade e agora vou ficar à espera da sua viagem para angola.
ResponderEliminarTenha um maravilhoso fim de semana.
Beijinhos
Maria
Caro José,
ResponderEliminarAgradecemos a sua visitinha
Gostamos muito do seu Blog. Muito legal de se ler
Você é um guerreiro!!!
Tenha um ótimo e abençoado final de semana
Abraço de
Verena e Bichinhos
Gosto de ver sua maneira espontanea e sem dor e contar sua historia, como a nos passar uma lição de perseverança.Meu bom José,prossiga sempre com esta naturalidade e humor. Meu abraço, já estou a seguir este blog com link na minha pagina.Bom ter voce de volta.Meu terno abraço de paz e luz.Bom fim de semana.
ResponderEliminarAmigo José belo e verdadeiro, este seu artigo. Nele menciona como se vivia em Portugal na década de 60.
ResponderEliminarTenho, perfeito, conhecimento das dificuldades como muitas famílias rurais viviam.
Penso que tenham feito uma boa viagem, naquele grande e confortável barco que teve o nome de Vera Cruz.
Também viagei nele do Porto de Nacala-Moçambique, para Lisboa, de 11 de Fevereiro a 1 de Março de 1966. Adorei.
Os meus parabéns por mais este seu blog. Está, tal como os outros, muito bem organizado.
Bom fim de semana, um abraço
Eduardo.
Vou seguir esta história de Vida.Com interesse e Amizade.
ResponderEliminarBeijo.
isa.
Bom dia, querido amigo José Sousa.
ResponderEliminarLi o seu perfil, e sua história de vida é muito emocionante. Você é um exemplo de superação. Parabéns pela sua força.
A África toca fundo no meu coração. Me emociono sempre, só de falar sobre esse Continente. É como um "calcanhar de Aquiles"
Muito obrigada pela honra da sua visita, e pelo comentário gentil.
Voltarei para ler com mais calma, porque gosto de desfrutar de cada palavra.
Tenha um lindo domingo, cheio de paz e alegrias.
Um grande abraço. (Estou lhe seguindo)
Oi meu anjo, eu vou te seguir sim com o maior carinho do mundo, só estou sem tempo de te ler agora, pois estou com um trabalho imenso aqui pra terminar. Só quis vir registrar meu carinho de sempre e me colocar rapidamente entre os seus seguidores. Bjo grande amigo querido.
ResponderEliminarOlá, amigo Jose
ResponderEliminarSe pemites acompanharei suas escritas
Amei conhecer esse espaço
da realidade de sua história de vida
Estarei sempre aqui a visita-lo
Tenhas um dia regado de muito amor
Abraços carinhoso
Preciosa Maria
Olá José,
ResponderEliminarMuito legal você poder
compartilhar sua historia.
Estou adorando.
O blog esta lindo e você esta
de parabéns.
Voltarei pra ver a viagem a Angola.
Beijos
josé,meu amigo querido ca estou seguindo seu blog fiquei muito emocionada ,pois li toda postagem.E você é um exemplo para todos nós que temos problemas sim,mais diante de você se torna peqeninos e me enti mediocre pelas vezes que reclamo da vida.
ResponderEliminarQuerido josé,em sua postagem você fala que escreveu um livro,pois se escreveu e tem para venda gostaria de adguirir um exemplar
E também colocaria nos meus blogs para ser adquiridos pelos meus amigos(AS)bloueiros.
Vou deixar meu email para vc se sentir mais a vontade para dar repostas..
evanir_garcia@hotmail.com
fique bem a vontade para respoder estarei a espera.
Um feliz e abençoado Domingo beios amigo querido,Evanir.
http://aviagem1.blogspot.com
E
www.fonte-amor.zip.net.
Grande e carinhoso abraço com todo repeito e carinho.
Passei para agradecer a visita ao blog do Grupo Gambiarra Profana e pelo gentil comentário. Muito bom seu texto, tanto o primeiro como o segundo capítulo, Parabéns e volte sempre que desejar.
ResponderEliminarOlá José
ResponderEliminarEstou acompanhando a sua estória e o seu exemplo. Parabéns.
Grande abraço
OI José,
ResponderEliminarCá estou eu, te seguindo também é absolutamente encantada com tudo o que estou vendo por aqui.
Voltarei sempre, comecei a ler seu perfil e já comecei a chorar, sou chorona mesmo, e tenho profunda admiração por vencedores.
Eu vou voltar sempre que possível, sei que aqui tem força e superação (o que eu busco)
Obrigada por ter me encontrado.
beijo.
Estou a gostar de conhecer os espaços. Gosto de África, vivi lá, no lado oriental. O cheiro deve ser o mesmo, inconfundivel o cheiro a África.
ResponderEliminarAbraço
José, vim retrubuir a sua visita carinhosa ao meu blog, e vim conhecer o seu. Estou adorando seu texto, o modo como conta sua vida em detalhes, vou voltar mais vezes, e irei ver os seus outros blogs. Gosto muito de ler, mas asuntos como seu. Vou te seguir e a partir de hj para acompanhar seus textos. Parabéns,
ResponderEliminarvolte quando der ao meu cantinho, será muito vem vindo...bjocas
QUERIDO AMIGO ZEZITO.
ResponderEliminarque bom que gostas que te chame assim,tb muito me apraz.
nossa lendo teu relato me deu uma saudades da minha mãe, histórias que ela contava de sua infancia, da pobreza, necessidades, do pai pescador que morreu com as febres...vc sabe do que falo...
nossa muito bom ler-te.
vou dar sequencia as outras...bjuivos no seu coração.
amanha volto pra ler os outros dois capitulos que faltam..to adorando demais...
fique bem meu amigo.
estes foram tempos dificeis em varias partes do mundo. em Portugal iniciava-se a ditadura de Salazar. Alguns anos depois, viviamos aqui no Brasil os terríveis anos de Chumbo. Fico imaginando o que vcs encontraram em Angola.
ResponderEliminarMas vamos ao 3º capitulo!
Olá, José!
ResponderEliminarPor uma falha minha, não estavam aparecendo na minha página as atualizações do teu blog.
Assim, só havia lido o primeiro capítulo. Com surpresa, recebi tua mensagem já citando o quarto!
Este erro já foi corrigido, e agora estarei lendo os capítulos restantes.
Abraços!
meu amigo ler este seu blog é uma grande lição de vida pra mim e tantos outros...muitos pensaram que é puro exibicionismo mas tantos como eu que veem alem de suas palavras conseguirão sentir a asua alma em palavras, não pare nunca de escrever vc insentiva muitos como eu a fazer o mesmo, ainda que os escritos sejam diferentes, porem todos vem de dentro da alma...
ResponderEliminarOi José! Já li o segundo capítulo também, sua história apesar dos momentos tristes e difícies de sua infância e das limitações que lhe foram impostas pela vida, você consegue passar isso de uma forma leve e servir de exemplo pra muita gente, demonstrando que apesar das dificuldades podemos ser felizes, depende apenas da forma que encaramos os acontecimentos.
ResponderEliminarAbraço